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Foto: Facebook |
Ao visitar a
página pessoal do escritor Edson Silva Moura, em uma rede social logo imaginei
que seria difícil entrar em contato com ele. Tinha a errônea impressão, até
então, que os escritores estariam sempre além de nosso alcance. Pois, das três
fotos disponíveis para visualização de “desconhecidos” apenas uma revelava sua
face. Não demorou muito e logo me surpreendi com a grata e rápida resposta ao convite
de perfila-lo.
Nascido em Guarulhos (SP), Edson Moura iniciou
o nosso bate papo já ressaltando a importância das redes sociais para os
produtores literários. Pois, permite uma aproximação maior com os futuros
leitores e estabelece contato com escritores de diversas nacionalidades. Atualmente
o escritor reside na Rua Pe. Estima, 114, centro da cidade de Santa Cruz do
Capibaribe, no agreste de Pernambuco.
Ao ser questionado sobre a narrativa, do
seu primeiro livro, O Silêncio das Vespas, Edson é categórico e direto ao
dizer: “Houve uma carga excessiva de
linguística”. O senso autocritico do escritor, seria evidenciado pelo
amadurecimento literário presente em sua obra mais recente. Segundo Moura o
contato com o mundo e com outras formas de pensar causaram naturalmente o seu
amadurecimento. Possibilitando-lhe um novo olhar sobre as questões simples e as
vezes desapercebidas pelo senso comum: tais como o choque do arcaico com o
contemporâneo no meio rural, ilustrado pelo autor como a troca de veículos de tração
animal por automotores.
Interessado em compreender os assuntos
cotidianos, desde os econômicos até os ecológicos, o escritor de 34 anos
declara-se um observador. (Algo perceptível durante a entrevista, seu olhar
raramente pairava sobre as questões, estavam sempre em movimento, atrelado ao
mundo ao seu redor).
Ao longo dos mais de 20 anos dedicados a
produção literária, Edson garante que o princípio
de tudo é a ‘ideia’; seus trabalhos são frutos de leituras e de sua
conectividade com a atualidade. Sendo assim, escrever está muito além de sentar
e redigir laudas, requer uma ideia construída ou em continuo processo de
construção. Nessa fase toda a carga de conhecimentos diversos vem à tona, causando
uma explosão de sentimento, sensações e experiências que nem sempre somos
capazes compreender.
“É um processo continuo de escrita e
reescrita, muito trabalho, o gênero literário tem suas peculiaridades
funcionais, e estas são aprimorados com a intensificação dos trabalhos. Tudo
isso somado a ambiente propício a concentração e centralização para desenvolver
as ideias literárias. Normalmente meu horário dedicado à produção é no final da
tarde, quando a mente focou em acontecimento do cotidiano, observados, lançando
reflexões, ponderado e transformado em texto literário e podem durar entre uma,
duas ou três horas”.
Acompanhar os pensamentos de Edson (e
acredito que de qualquer outro escritor), requer atenção, muita atenção, numa
fração de segundos ele iniciou e fechou pensamentos numa rapidez louvável. Enquanto
eu articulava mentalmente uma indagação sobre o processo de criação, Edson já
começar a discorrer sobre a finalização de suas produções.
Os personagens são uma versão cognitiva
da história; definiu o escritor para me fazer compreender que os personagens
criados por ele, são apenas um pretexto para expor a sua visão “metafórica” de
mundo. Já publicou três livros: O Silêncio das Vespas (2010); Vespertinos em Coma
(2011) e Quinta Estação de Pintura (2012).
Amante do realismo fantástico, Moura
enxerga nas viagens para Campina Grande, no choque de culturas ou nas coisas
mais sutis, um enredo para seus trabalhos.Vencedor dos prêmios de literatura
Asabeça (2006 e 2009), Menções honrosas (finalista) nos Prêmios Sesc de
literatura (2011 e 2013), Prêmio Pernambuco de Literatura (2014), considera-se
um escritor desconhecido da grande mídia e construindo o seu público leitor. Trabalhando atualmente na produção de
roteiros para o cinema, o escritor afirma que todo autor quer se comunicar e
nem sempre encontra espaço nas grandes mídia; [neste momento Edson voltasse
para mim e acrescenta] “eu sei que a
culpa não e dos jornalista. Pois, os aspectos econômicos tem norteado muitas
empresas de comunicação”.
Minha concepção de que os autores são
tímidos estava sendo reafirmada por Edson ao narrar a origem de sua página em
uma rede social. Segundo ele a intensão inicial era montar um personagem e
expor seus trabalhos. Mas a ideia não vigou... o jeito foi mostrar a face e
buscar estabelecer contato com outros autores. Para tanto, era preciso alçar
voo em busca de novos horizontes. [um pouco mais à vontade] Edson contou-me dos
laços afetivos com a Paraíba, construídos ao longo de sua Licenciatura em
História e Graduação em Letras, ambas na UEPB.
Em solo paraibano conheceu o Núcleo Literário
Blecaute, tornou-se amigo de um dos idealizadores do núcleo, Bruno Gaudêncio, “um divisor de águas na minha carreira”
- como Moura o descreveu – ao lembrar que naquela época ambos almejavam
conquistar outros “mundos”. Nesta nova abertura ao mundo, o escritor viu sua
obra ultrapassar fronteiras e chegar a países como Argentina, Peru, Angola,
entre outros. Através do intercâmbio de livros e de contatos estabelecidos com
autores residentes nestes países. Desta forma, Edson acredita que está construindo
o seu público leitor. Como ele mesmo disse, “este
é um trabalho de formiguinha”. Entre os escritores que sempre influenciaram
sua obra estão: Gabriel Garcia Márquez, José Saramago, Machado de Assis, George
Orwell, Albert Camus, Franz Kafka, entre outros.
Neste ano na Feira do Livro de Frankfurt,
na Alemanha, oito autores pernambucanos foram homenageados. Um fato curioso que
estimulou Edson a continuar sua jornada literária. Sem esquecer das
dificuldades gráficas e editoriais que “paralisam” a publicação de novos
títulos no Brasil. Quando se trata de publicação, nosso perfilado, não permite
que nenhum item seja esquecido ou menosprezado. Como ele bem ressaltou, sua
arte literária pode até ser considerada amadora. Mas ela nunca será
desrespeitosa com seu público. Embora reconheça as dificuldades econômicas e
principalmente a falta de hábito literário de nosso povo em tirar dinheiro do
bolso e comprar um livro de um autor conhecido, o que dirá de um desconhecido.
Na era dos dispositivos móveis, Edson os
utiliza de forma discreta e ponderada, sua metodologia é semelhante a utilizada
pelas escolas de ensino base nos anos 90. Quando em sala de aula nos era
proposta uma dissertação sobre determinada imagem exposta no quadro. “Quem num já fez uma atividade desta na
vida?” perguntou risonho. Hoje ao produzir uma imagem fotográfica, Moura já
imagina qual será o gênero e o contexto literário na qual será inserida. Neste
momento da conversa ele conclui o assunto dizendo: “Eu sou um autor silencioso”.
“Com uma frequência moderada faço
anotações. Normalmente meus registros externos para produzir um texto literário
vem do meu hábito de fotografar o mundo a minha volta, o que posso considerar
uma experimentação com o ato de registrar momentos e lugares, o que servirão
como ponto de partida para futuros trabalhos”.
Ao longo de sua trajetória, ele já
passou por inúmeras situações engraçadas. Como ser jurado de gincanas ou convidado
a produzir textos associando a sua obra a certas propostas avessa ao seu perfil
de escritor. Quando isso acontece, ele não hesita em recusar o convite,
justificando que tal correlação “imposta” não existe. Embora o autor precise se
comunicar, como ele expressou por duas vezes em nosso diálogo, a sua fala
principal será sempre sobre o enredo, os personagens ou contexto sociocultural
que sua obra retrata.
Questionado porque escrever, Edson
responde de forma literária: “O autor é
uma pessoa inquieta, está sempre observando as coisas do mundo e essas
inquietações nos faz escrever”. Revelando assim, que ao contrário do que
muitas pessoas pensam, os escritores não vivem num mundo fantasioso. Mas usam
da arte para fantasiar o mundo em que vivem. Segundo Edson, entre os autores da
literatura contemporânea, estão alguns pernambucanos como: Marcelino Freire, Gilvan
Lemos, Wellington de Melo e Walter Moreira Santos.
“Escrevo pela necessidade intrínseca de
me comunicar com o próximo. A escrita um meio comunicativo mais democrático que
conheço para eclodir tudo que capto sobre a natureza humana, todo que observo
nas transformações do mundo, sobre o conhecimento que tenho de mim mesmo e da
realidade a minha volta. Tenho a liberdade de conotar ou denotar, dependendo da
necessidade da ideia para produzir um texto. Escrever um texto literário é
ensaiar nossa visão do mundo na nossa volta”.
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Antes de nos despedirmos, perguntei qual
seria a maior dificuldade para um escritor atualmente, esperava que ele me
respondesse a falta de apoio para publicação, a estrides do mercado, o
desinteresse dos brasileiros pela leitura. Mas não, ele foi curto e direto: “Continuar produzindo trabalhos
[literários]”. Nesta hora compreendi o que move um escritor não é os
milhões de livros vendidos, mas a inquietude que o leva a produzir – algo inerente
a sua vontade e estímulos. Pois caberá ao tempo imortalizar sua obra, perpetuar
seus pensamentos e reconhecer sua magnitude como escritor. Afinal, o único
homem que transcende todas as barreiras e transita em vários mundo é o
escritor.
por Antonio Carlos
Graduando de Jornalismo UEPB