domingo, 31 de dezembro de 2017

    Quadra Poliesportiva do Jerimum homenageará José Cândido

    Fotos: Arquivo da Família
    Nascido no sítio Ferraz, zona rural de Taquaritinga do Norte, José Cândido (1942 – 2016) era o segundo filho, numa escala de sete, de seu José Alexandre Bezerra e dona Maria Rosa Figueirôa. Sua infância e adolescência foi dividida entre os estudos e o trabalho para sustentar a família. Ao lado da sua irmã mais velha, Maria do Socorro, seu Deda, como ficou popularmente conhecido, trabalhava no cultivo de lavoura, na criação de animais e transporte de esterco (estrumo) num jumento para os sítios circunvizinhos.

    No final dos anos 50, a tia materna Margarida Figueirôa propôs a mudança da família para o Rio de Janeiro. Nesse período, a região Nordeste já vivenciava o êxodo rural e a família Figueirôa foi mais uma a fugir da seca e a tentar ganhar a vida na região Sudeste. Instalados em Nova Iguaçu, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, seu Deda ganha uma bolsa de estudos e conclui o ginásio (atual Ensino Fundamental II) na Fundação de Ensino Secundário da baixada fluminense.

    Fac-simile do cartão de inscrição do Ginásio
    Em dezembro de 1959, é contratado pela empresa Granja Paraíso S/A, pertencente ao senhor Severino Pereira, onde desenvolveu por 13 anos a função de motorista de carga. No primeiro ano de trabalho foi contratado segundo as normas da “Carteira de Trabalho de Menor”, pois tinha apenas 17 anos. No ano seguinte, ao atingir a maior idade, seu Deda ingressa no contexto trabalhista da época.

    Em janeiro de 1974, passa a desenvolver a mesma função na empresa de Paraguaçu Têxtil S/A. Ao longo dos mais de cinco anos em que trabalhou nesta empresa, o motorista nunca foi multado ou recebeu qualquer advertência, seu profissionalismo e compromisso em executar corretamente o transporte das mercadorias era motivo de admiração e respeito por parte da diretoria e colegas de trabalho.

    Já na década de 80, enquanto aguardava a concessão de sua aposentadoria por tempo de serviço, trabalhou por conta própria na produção e distribuição de grama verde, transporte de bloco de laje e cargas terceirizadas para os estados da região Sudeste. Neste período, a família consolida a sua estabilidade financeira e seu Deda começa a cultivar o desejo de voltar a residir em sua terra natal.

    Ao visitar a Dália da Serra em junho de 1991, solo que ele tinha profundo carinho, seu Deda conheceu a agricultura Alice Lima no sítio Jerimum, com quem iniciou um namoro. O retorno para a cidade Maravilhosa apenas adiou o desejo mútuo de unirem-se em casamento. A união matrimonial aconteceu em outubro de 1991, quando dona Alice aceitou o pedido de casamento e conseqüentemente a mudança para o estado carioca. A experiência adquirida no emprego anterior foi determinante para que seu Deda investisse na profissão de motorista de carga comerciais. No entanto, o desejo de voltar para a terra que ele considerava como sua não saia de sua mente e de sua esposa.

    A união matrimonial durou mais de 25 anos / Foto: Antonio Carlos
    Em dezembro de 1994, o casal voltou definitivamente para morar no município de Taquaritinga do Norte. A simpatia que seu Deda tinha pelo Jerimum e o desejo de dona Alice de voltar a residir na mesma localidade de seus familiares foi decisivo para que o casal opta-se por morar no vilarejo. No ano seguinte, seu Deda passou a trabalhar com a venda de cama de galinha.

    Em 1995, o casal constrói a casa própria no centro do Jerimum e seu Deda passa a trabalhar de forma autônoma, transportando água para residências e estabelecimentos comerciais nos municípios de Taquaritinga do Norte e Santa Cruz do Capibaribe. No novo endereço, plantou coqueiros ao redor da casa, instalou caixas de som pela varanda, pois a Música Popular Brasileira, o forró pé de serra e os clássicos internacionais eram alguns dos gêneros musicais que gostavam de ouvir quando tinha um tempo livre. Todavia, ouvir o canto do sabiá era uma das suas maiores alegrias. Em 1997, passou a transportar e distribuir água potável pelo Estado.

    Sempre muito comunicativo, seu Deda passou a participar ativamente do cotidiano da comunidade. Seja nas celebrações da Capela de São Sebastião ou nos eventos socioculturais do Jerimum, sua presença era notada pela altivez das palavras e pela maneira singular com que tratava a todos. Na companhia de tantos outros moradores do Jerimum, seu Deda foi membro fundador da Associação dos Produtores Rurais e desenvolveu a função de Coordenador do Conselho Fiscal na primeira e segunda diretoria da associação fundada em 2002.

    Entre os anos de 2007 e 2008, transportou alunos da rede Municipal de ensino do sítio Pé de Serra, Capoeira da Roça e São Paulo de Sinésio para a escola local (Chefe Leandro). A lembrança mais profunda que ele guardava neste período aconteceu no dia de seu aniversario, quando as crianças que transportava com tanto zelo e cuidado contaram parabéns e em seguida todas lhe abraçaram...

    Os anos seguintes foram dedicados novamente ao transporte e distribuição de água potável pelo Exército Brasileiro através do Comando Militar do Nordeste. Sua honestidade e responsabilidade eram sempre lembradas pelos dirigentes do batalhão que coordenava anualmente a operação “Carro Pipa” em Taquaritinga do Norte.

    Em 2013, por recomendação médica, seu Deda deixa o trabalho de motorista e dedica-se ao loteamento de seu terreno, localizado por trás de sua residência. Ao demarcar as áreas que seriam destinadas ao poder público municipal, o ex-caminhoneiro expressa o desejo de ver construído, num daqueles espaços, a quadra poliesportiva. No ano seguinte, com a finalização da regulamentação imobiliária, seu Deda atribui o nome do padroeiro da comunidade ao seu loteamento: “São Sebastião”.

    Aos 73 anos, vítima de um infarto agudo no miocárdio, seu Deda nos deixou na tarde da terça-feira, 19 de abril de 2016, no Procape em Recife (PE). Entretanto, o seu legado, a sua paixão pelo Nordeste, o seu respeito às pessoas, sua estima pela palavra e sua defensa pelo “certo”, pelo “correto” permanecem intactos no coração de todas às pessoas que tiveram a satisfação de conhecer, conversar e conviver com seu Deda.

    Por Antonio Carlos
    Jornalista DRT PE 6154

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