Fotos: Arquivo da Família |
No final dos anos 50, a tia materna Margarida Figueirôa
propôs a mudança da família para o Rio de Janeiro. Nesse período, a região
Nordeste já vivenciava o êxodo rural e a família Figueirôa foi mais uma a fugir
da seca e a tentar ganhar a vida na região Sudeste. Instalados em Nova Iguaçu,
município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, seu Deda ganha uma bolsa
de estudos e conclui o ginásio (atual Ensino Fundamental II) na Fundação de
Ensino Secundário da baixada fluminense.
Fac-simile do cartão de inscrição do Ginásio |
Em dezembro de 1959, é contratado pela empresa Granja
Paraíso S/A, pertencente ao senhor Severino Pereira, onde desenvolveu por 13
anos a função de motorista de carga. No primeiro ano de trabalho foi contratado
segundo as normas da “Carteira de Trabalho de Menor”, pois tinha apenas 17
anos. No ano seguinte, ao atingir a maior idade, seu Deda ingressa no contexto
trabalhista da época.
Em janeiro de 1974, passa a desenvolver a mesma função na
empresa de Paraguaçu Têxtil S/A. Ao longo dos mais de cinco anos em que
trabalhou nesta empresa, o motorista nunca foi multado ou recebeu qualquer
advertência, seu profissionalismo e compromisso em executar corretamente o
transporte das mercadorias era motivo de admiração e respeito por parte da
diretoria e colegas de trabalho.
Já na década de 80, enquanto aguardava a concessão de sua
aposentadoria por tempo de serviço, trabalhou por conta própria na produção e
distribuição de grama verde, transporte de bloco de laje e cargas terceirizadas
para os estados da região Sudeste. Neste período, a família consolida a sua
estabilidade financeira e seu Deda começa a cultivar o desejo de voltar a
residir em sua terra natal.
Ao visitar a Dália da Serra em junho de 1991, solo que
ele tinha profundo carinho, seu Deda conheceu a agricultura Alice Lima no sítio
Jerimum, com quem iniciou um namoro. O retorno para a cidade Maravilhosa apenas
adiou o desejo mútuo de unirem-se em casamento. A união matrimonial aconteceu
em outubro de 1991, quando dona Alice aceitou o pedido de casamento e
conseqüentemente a mudança para o estado carioca. A experiência adquirida no
emprego anterior foi determinante para que seu Deda investisse na profissão de
motorista de carga comerciais. No entanto, o desejo de voltar para a terra que
ele considerava como sua não saia de sua mente e de sua esposa.
A união matrimonial durou mais de 25 anos / Foto: Antonio Carlos |
Em dezembro de 1994, o casal voltou definitivamente para
morar no município de Taquaritinga do Norte. A simpatia que seu Deda tinha pelo
Jerimum e o desejo de dona Alice de voltar a residir na mesma localidade de
seus familiares foi decisivo para que o casal opta-se por morar no vilarejo. No
ano seguinte, seu Deda passou a trabalhar com a venda de cama de galinha.
Em 1995, o casal constrói a casa própria no centro do
Jerimum e seu Deda passa a trabalhar de forma autônoma, transportando água para
residências e estabelecimentos comerciais nos municípios de Taquaritinga do
Norte e Santa Cruz do Capibaribe. No novo endereço, plantou coqueiros ao redor
da casa, instalou caixas de som pela varanda, pois a Música Popular Brasileira,
o forró pé de serra e os clássicos internacionais eram alguns dos gêneros
musicais que gostavam de ouvir quando tinha um tempo livre. Todavia, ouvir o
canto do sabiá era uma das suas maiores alegrias. Em 1997, passou a transportar
e distribuir água potável pelo Estado.
Sempre muito comunicativo, seu Deda passou a participar
ativamente do cotidiano da comunidade. Seja nas celebrações da Capela de São
Sebastião ou nos eventos socioculturais do Jerimum, sua presença era notada
pela altivez das palavras e pela maneira singular com que tratava a todos. Na
companhia de tantos outros moradores do Jerimum, seu Deda foi membro fundador da
Associação dos Produtores Rurais e desenvolveu a função de Coordenador do
Conselho Fiscal na primeira e segunda diretoria da associação fundada em 2002.
Entre os anos de 2007 e 2008, transportou alunos da rede
Municipal de ensino do sítio Pé de Serra, Capoeira da Roça e São Paulo de
Sinésio para a escola local (Chefe Leandro). A lembrança mais profunda que ele
guardava neste período aconteceu no dia de seu aniversario, quando as crianças
que transportava com tanto zelo e cuidado contaram parabéns e em seguida todas
lhe abraçaram...
Os anos seguintes foram dedicados novamente ao transporte
e distribuição de água potável pelo Exército Brasileiro através do Comando
Militar do Nordeste. Sua honestidade e responsabilidade eram sempre lembradas
pelos dirigentes do batalhão que coordenava anualmente a operação “Carro Pipa”
em Taquaritinga do Norte.
Em 2013, por recomendação médica, seu Deda deixa o
trabalho de motorista e dedica-se ao loteamento de seu terreno, localizado por
trás de sua residência. Ao demarcar as áreas que seriam destinadas ao poder
público municipal, o ex-caminhoneiro expressa o desejo de ver construído, num
daqueles espaços, a quadra poliesportiva. No ano seguinte, com a finalização da
regulamentação imobiliária, seu Deda atribui o nome do padroeiro da comunidade
ao seu loteamento: “São Sebastião”.
Aos 73 anos, vítima de um infarto agudo no miocárdio, seu
Deda nos deixou na tarde da terça-feira, 19 de abril de 2016, no Procape em
Recife (PE). Entretanto, o seu legado, a sua paixão pelo Nordeste, o seu
respeito às pessoas, sua estima pela palavra e sua defensa pelo “certo”, pelo
“correto” permanecem intactos no coração de todas às pessoas que tiveram a
satisfação de conhecer, conversar e conviver com seu Deda.
Por Antonio Carlos
Jornalista DRT PE 6154
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