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Fotos: Antonio Carlos / Ascom São João da Moda |
De tanto ouvir falar das casinhas da cidade Cenográfica
do São João da Moda, eu resolvi conhecer de perto esse lugar e seus moradores.
A primeira vista uma chuva de lembranças invadiu a minha cabeça e comecei a
reviver alguns momentos de minha vida. A começar pelo Armazém de compadre Zé, o
centro das notícias e principal ponto de encontro dos contemporâneos da minha
época, lá encontrávamos tudo que procurávamos e ainda podíamos comer um
saboroso pão doce com cajuína ou tomar aquela bicada para esquentar o sangue.
Em seguida, entrei numa casa denominada da Ação Social.
Matutei com as minhas lembranças de quem era aquela casa, mas ao juntar as
letrinhas percebi que se tratava de um trabalho de conscientização sobre o
Enfrentamento ao Trabalho Infantil. Então compreendi que algumas crianças não
estão tendo tempo para correr de atrás do pneu, jogar bola de gude no terreiro
de casa ou subi nas árvores. Depois de deixar minha assinatura na folhas de
papel de pão, sai daquela casa convicto do quanto aquele trabalho era
importante para as crianças de hoje.
Como a minha visita aconteceu no final da tarde deste
sábado [30], encontrei o Fórum fechado. No entanto, vi que os traços da
construção eram semelhantes aos da minha época, a única diferença é que hoje as
cores estão mais vivas, a rua está pavimentada... Ao sair do Fórum, encontrei
Toinho da Onça sentando na frente de sua casa, desfrutando da sombra e da brisa
suave de nossa rua Grande. Ele me disse que aquela casa, tida como dos
Homenageados, era uma honraria que ele e meu saudoso amigo Milonga haviam
recebido do atual prefeito da cidade. No interior da casa, sentando num
tamborete, eu relembrei alguns ‘causos’ e ouvi um forró ‘arretado ’ de bom que
tava tocando no rádio de Milonga.
Mas logo nossa prosa foi interrompida, pois a ‘fia
donzela’ de cumadre Tereza saiu do caritó com o fio de ‘Sebastão’ e a ‘famia’
com medo de perder o casório, tratou logo de levá-la até os pés de padre Gusmão
pedi as bênçãos do Senhor Bom Jesus dos Aflitos e São João Batista. A euforia em
torno do casamento era tamanha que logo a rua encheu de curiosos que queriam
ver o vestido da noiva, já outras debruçadas nas janelas acompanhavam toda a
movimentação da rua. Vizinho a igreja
tinha a casa dos Artistas de nossa terra, lá eu encontrei grandes nomes do
forró, do teatro, cordelistas, aboiadores, artistas plásticos... gente que
tinha deixado seu legado para a cultura local.
Devido o entardecer das horas e a grande fila que se
formou em torno da casa de Adivinhações, onde Manoel Medeiros atendia as que pessoas que buscavam ver o futuro ou simplesmente ouvir palavras de ânimo, eu
apenas passei pela frente cumprimentando os conhecidos e segui meu caminho. Na
casa encostada tinha umas mulheres costurando retalhos de tecidos, outras
confeccionando vestidos e outras produzindo as mais variadas peças de vestuário
numa tiragem impressionante. Então, eu compreendi que naquela casa o tempo
estava passando na velocidade de um abrir e fechar de olhos.
Minha última parada foi na Prefeitura Municipal, onde uma
exposição de retratos mostrava o quanto nossa cidade havia crescido, naquele
momento, eu, a Santa Cruz dos anos 50, encontrei-me finalmente com a Santa Cruz
atual repleta de inúmeras ruas pavimentadas, de escolas requalificadas, de
casas populares sendo construídas, de programas sociais que trazem dignidade e
respeito ao povo... Enfim, envoltos pela emoção do reencontro, nós continuamos
sendo, cada qual há seu tempo, a Santa Cruz do Capibaribe que dar a todos “o
direito de crescer e progredir”.